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Como Casa de Folhas redefiniu o terror moderno

Filmes found footage, creepypastas e videogames

07/02/2024

Existem obras que definiram o que entendemos por terror. Drácula ajudou a construir todo o nosso imaginário em torno de vampiros, Frankenstein inseriu ficção científica na história, Poe conferiu uma melancolia única em suas narrativas, Lovecraft consolidou a nossa noção de horror cósmico, e antes dele obras como O Rei de Amarelo e O Grande Deus Pã pavimentaram o caminho para que essa fosse uma possibilidade.

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Mas se engana quem pensa que essas foram as últimas grandes contribuições do gênero. Ao longo dos séculos, autores e cineastas conseguiram encapsular os piores pesadelos das suas e das próximas gerações. Um desses nomes é Mark Z. Danielewski com seu aclamado Casa de Folhas, que chega pela primeira vez aos leitores brasileiros após mais de duas décadas de sua publicação original. 

Você até pode não ter lido [ainda] essa obra-prima do terror moderno, mas com certeza já sentiu o impacto do seu legado em filmes, livros, games e até mesmo em creepypastas.

casa de folhas

Casa de Folhas: A história dentro e por trás da história

Conhecido por sua complexidade e por romper os limites da literatura, Casa de Folhas é também uma obra muito pessoal para o autor. Ela foi publicada originalmente nos anos 1990 como uma série de capítulos incompletos e posts no blog pessoal de Danielewski, transformando-se em um fenômeno antes mesmo de sua publicação.

Quando soube que seu pai havia sido diagnosticado com câncer, Mark decidiu direcionar seus sentimentos complexos em uma narrativa experimental que acabaria evoluindo para Casa de Folhas. De maneira semelhante, sua irmã Poe desenvolveu o álbum conceito Haunted, intimamente ligado às muitas camadas do livro do irmão.

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Escrito ao longo de uma década, Casa de Folhas conta a história de um tatuador chamado Johnny Truant que se depara com um manuscrito bizarro que contém uma crítica exaustiva de um documentário que não existe. O filme seria sobre a experiência de um cineasta e sua família quando eles se mudam para uma casa misteriosa, que é maior do lado de dentro do que por fora.

casa de folhas

Mas não é apenas isso: o livro também possui muitos conteúdos e documentos extra — alguns deles contando a história da mãe de Johnny quando ela estava internada em um hospital psiquiátrico, além de frequentes anotações de editores confusos.

É uma obra complexa que lida com diferentes tipos de horror ao mesmo tempo, desde o terror da inexplicável arquitetura da casa até a figura onipresente do Minotauro que persegue os exploradores em um labirinto que não para de crescer. Há também certo grau da loucura lovecraftiana em torno dos personagens, que se veem presos em uma história dentro da história e questionando a realidade conforme a narrativa avança.

O terror na era digital

Antes mesmo de estar finalizado, o livro já rendia discussões on-line justamente pela maneira sagaz que unia ficção com realidade. É possível que tal debate tenha influenciado os cineastas Daniel Myrick e Eduardo Sánchez na produção de A Bruxa de Blair — lançado de tal maneira que as pessoas realmente acreditaram que as gravações eram reais. 

a bruxa de blair

Esse conceito de filmes found footage, ou seja, de gravações “reais” encontradas que contam um filme, é exatamente a ideia do documentário ao qual o manuscrito de Casa de Folhas se refere. Não por acaso esse conceito de filme de terror se tornou particularmente popular a partir dos anos 2000. Menos por acaso ainda é o fato de a música “Haunted”, de Poe, ser tocada nos créditos de A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras.

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As origens digitais e a estrutura epistolar de Casa de Folhas também ajudariam a influenciar as famosas creepypastas, aquelas lendas urbanas da internet. Unindo realidade e ficção para apavorar os leitores, algumas delas acabaram se tornando bem famosas e até viraram filmes. Um caso bem conhecido é o de Slender Man, que foi fortemente influenciado pela obra de Danielewski.

Videogames também acabaram se beneficiando das influências de Casa de Folhas, com cenários em 3D altamente manipuláveis que são ideais para explorar todas as possibilidades do terror arquitetônico. Os desenvolvedores da Remedy Entertainment possivelmente são o principal exemplo ao criarem games como Alan Wake e Control. O jogo de 2019 tem até uma sequência que pode ser interpretada como uma verdadeira carta de amor à descrição do livro de uma casa assombrada psicodélica.

alan wake

Uma expedição aterrorizante ainda em andamento

Discutida on-line há mais de duas décadas, a história de Casa de Folhas continua revelando novos corredores nas possibilidades do terror moderno. A essas alturas, já temos várias obras que são até mesmo indiretamente influenciadas pelo livro, com criadores que não chegaram a ler a trama de Danielewski, mas reproduzem muito do seu DNA — ainda que inconscientemente.

Apesar de vários elementos do livro terem contribuído com a produção moderna do terror, é curioso notar que nenhuma dessas obras, em qualquer um de seus formatos, conseguiu reproduzir a profundidade emocional de Casa de Folhas. Uma tentativa recente de pelo menos tentar chegar perto da atmosfera do livro foi o filme Skinamarink, que transformou o conforto corriqueiro do lar em um pesadelo sem fim e sem lógica.

skinamarink

Mais duas décadas e meia podem se passar e ainda estaremos colhendo os frutos das contribuições de Danielewski para a história do terror — ao mesmo tempo em que ainda estaremos tentando decifrar todos os enigmas de uma história tão labiríntica quanto a própria casa. Casa de Folhas não é apenas um livro que marcou sua geração, seus cômodos ainda têm muitos terrores para revelar.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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